terça-feira, 11 de outubro de 2016

Importância do CTVISAU para nova visão do trabalho em saúde do Agente de Controle de Endemias

    A vigilância em saúde como proposta de modelo assistencial surge para fortalecer e ampliar as ações do sistema de saúde e dos modelos de atenção vigentes, os quais tem base nas intervenções pela prevenção e no tratamento das doenças. Exige muito trabalho para reorganização da rede e também, no sentido de mudar os paradigmas existentes em nosso imaginário como usuários, trabalhadores e gestores do sistema de saúde brasileiro. Nesta perspectiva, muitos de nós, quando pensamos em proteger a saúde, buscamos uma estrutura que tenha bons profissionais de saúde, acesso rápido a consultas médicas, com boa rede diagnóstica, hospitais bem estruturados... Mas, compreendemos, também, que para manter a saúde é fundamental se alimentar bem, ter água de qualidade, saneamento, lazer, renda adequada... Enfim, ter condições de vida que sejam promotoras da saúde. A existência ou não destas condições passam a ser fundamentais para se compreender os determinantes sociais da saúde e intervir em processos saúde-doença. 

    Assim, pela afirmação do conceito de ‘saúde como qualidade de vida’, estamos em consonância com os princípios do SUS, de universalidade (para todos), equidade (atender de acordo com a necessidade) e de integralidade (atender a todos os níveis de atenção à saúde) e para isso ter como premissa a participação social (princípio organizativo). 


    Tamanho desafio traz a exigência de uma reorganização do setor saúde. Na base desta reorganização, entre outras necessidades, a de que o setor saúde incorpore um processo de trabalho que destaque os determinantes sociais e a promoção em saúde. Consequentemente, é fundamental um trabalhador que tenha conhecimentos sobre riscos e vulnerabilidades sociais à saúde de determinada população, para apontar intervenções que possam gerar qualidade de vida. Uma das mais antigas categorias de trabalhadores da saúde - Agente de Endemias - está designada para esta área, ampliando sua atuação de intervenção sobre as endemias para atuar na Vigilância em saúde. E no Rio de Janeiro, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/FIOCRUZ, vem desde 2010 desenvolvendo um processo de formação técnica em vigilância em saúde.



    O agente de endemias, que já desenvolve seu processo de trabalho no território, adquire com a formação técnica, o aporte da base cientifica da vigilância em saúde, para identificar as condições de vida e saúde e as medidas de promoção necessárias, prioritárias para a população que ali vive. O olhar interessado sobre o território com as lentes técnicas e científicas das vigilâncias ambiental, sanitária, epidemiológica e saúde do trabalhador, possibilita uma forma diferenciada de análise das condições de vida e saúde da população. E a partir desta análise, o planejamento feito no território, permite reorientar as práticas de atenção à saúde. É essa visão que a estrutura da formação técnica em vigilância em saúde oferta aos estudantes. 


    O conhecimento sobre os riscos (biológicos/não biológicos) e vulnerabilidades dá poder ao setor e aos trabalhadores de saúde e a população organizada, para exigir e para apontar as prioridades das políticas públicas como de habitação, saneamento, transporte, lazer, geração de trabalho e renda, segurança, educação, saúde, entre outras, para corrigir iniquidades, gerar qualidade de vida e territórios saudáveis. Esta é a base da formação técnica em vigilância em saúde no CTVISAU – Curso Técnico em Vigilância em Saúde: conhecer o território, analisar as condições encontradas, e com a população planejar e buscar as intervenções de acordo com as prioridades. 
Ter técnicos nesta área significa ter como finalidade promover a saúde, para se obter melhores resultados ao se prevenir ou tratar as doenças nas suas especificidades. É avançar na organização do SUS – Sistema Único de Saúde, e tratar com dignidade a população de uma cidade.

Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2016.

Colaboração:Ieda da Costa Barbosa.
 Coordenação & Equipe Técnica da EPSJV/FIOCRUZ do 
Curso Técnico de Vigilância em Saúde

Um comentário:

  1. Realmente texto muito bom, espero que a atual conjuntura política e econômica do Brasil não seja um empecilho para a formação de novas turmas. Infelizmente não pude concluir o ctvisau por estar em licença amamentação. Tive que escolher entre amamentar meu filho no peito ou terminar o curso. Como profissional de saúde e como mãe, claro que preferi meu filho, pois ele ainda estava em amamentação exclusiva e não tinha com quem deixá-lo para poder concluir o curso. Novamente, estarei na torcida, se preciso lutarei para que tenhamos novas turmas.E que situações como a que passei sejam previstas e solucionadas sem que haja prejuízos para as alunas mães, seus filhos e o próprio curso, pois cursei até a metade e este dinheiro investido não retorna. Como sugestão: por que não fazer à distância? De qualquer forma... não quero ficar me prolongando e parabéns pelo texto.

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